Sentes-te (IN)suficiente?

Às vezes gosto de ir passear na rua pela noite dentro. Sentir o ar frio entrar nos pulmões enquanto o vento me acaricia a face. E perco-me. Às vezes em certas ruas, outras vezes dentro dos caminhos da minha própria cabeça. Os pensamentos falam mais alto sem esforço, há silêncio nas ruas. E hoje deparei-me a analisar o vazio que encontro. Na música, nos becos e nas pessoas. Não sei como, mas criou-se uma certa histeria à volta do... nada. Não querer nada, não querer assumir nada, não querer tomar partidos nem lados de história nenhuma. Não nego, não fazer nada é uma opção e pelos vistos bem assente nos dias de hoje. 
Custa-me ver a minha geração ver os dias passar, deprimidos porque talvez não sejam assim tão especiais quanto o mundo e os media lhes disseram enquanto cresciam, porque nesta idade não atingiram o ideal que sempre foi impingido. Além disso, sentem-se perdidos no meio do mar, sem ver terra, sem saber para onde haverão de nadar. Então não se entregam, a nada nem ninguém. Isso teria que envolver algum tipo de compromisso num mundo em constante metamorfose. "Será que vale a pena o investimento?" Não querem perder tempo em algo que pode simplesmente esfumar-se na sua frente. Então congelam por receio e, por outro lado, perdem-se a eles próprios. Em fumos, etanol, vícios que justifiquem a sua existência ou simplesmente a derrogue, mesmo que por um momento. Entristece-me um pouco não perceberem que, apesar de serem peças de um sistema sim (afinal vivemos numa sociedade), podem ser incríveis. No entanto, vivemos numa bolha de coitadinhos, onde o que interessa é fazer parecer que tudo está bem quando por dentro somos todos um novelo de incertezas. Temos medo de falhar, de acabarmos sem um cêntimo na reforma, de não sermos esteticamente ideais, de ficarmos sozinhos e incompreendidos. Não nos sentimos suficientes. E isso é o maior fator desmoralizador, na minha opinião, de hoje em dia. Considero isso terrível; uma pessoa desmoralizada não é produtiva nem focada. Então, para onde caminhamos? Pagamos à máfia por segurança, como diz Capicua. Portanto, numa sociedade que lucra com a incerteza do próximo (em produtos que te trazem uma utopia de bem-estar na vida - medicamentos, tecnologias, pseudo-promoções em coisas inúteis, até mesmo universidade) acho que é preciso muita coragem para iniciar uma jornada de reconhecimento, tanto próprio como do que nos rodeia. O espírito crítico pouco incentivado acompanhado de uma série de diretrizes de como a vida deve ser leva a que depois, quando lançados para fora do ninho quase à patada (perdoem-me a expressão), não saibam o que fazer e só queiram voltar para trás. Paralisam porque não têm mecanismos de reação perante este tipo de adversidade, não foram criados para levantar a cabeça dos livros e perguntar-se "quem sou eu?". Esta pergunta foi ao longo do tempo simplesmente respondida com a série de etiquetas sociais sob as quais foram criados. Aquilo que exige um pouco mais de raciocínio, compreensão, empatia, custa demasiada energia e não estamos dispostos a despender dela porque estamos ocupados a entrar em pânico com os nossos problemas (que muitas vezes são do tamanho de um grão de arroz, mas a paranoia envolvida no Síndrome do Impostor já é tanta...) ou, vendo o outro lado da moeda, a procrastinar para evitá-los.
De uma maneira ou de outra, passamos pelas ondas da incerteza e achamos que vamos no barco sozinhos. Se pensarmos bem, as pessoas que vemos na rua talvez tenham as mesmas perguntas que nós. Mas não queremos falar sobre isso, elas possivelmente mudariam a sua maneira de estar connosco porque estamos meios "partidos" e precisamos que alguém nos ajude. Estar mal hoje em dia não faz sentido nem parece ser socialmente aceite. Então ou criamos uma mega associação de apoio ou ostracizamos a pessoa até que ela se conforme com a situação porque "já têm os seus próprios problemas (e nem esses conseguem resolver), para que hão-de ralar-se com os problemas dos outros?". 
O que venho transmitir, em suma, é que se isto se aplica a ti, eu compreendo. Escrevi e tenho os pés em ferida de tanto tiro que lhes mandei ao longo da redação. O conselho que te deixo é para andar para a frente de forma consciente. Alinha  o que pensas com o que dizes e fazes, e para isso podes começar por descobrir aquilo que te dá paz. Quando encontrares, foca-te nisso! Torna a tua paz interior o teu maior objetivo, isso dar-te-á força perante as adversidades, e o resto ficará no seu devido lugar.

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