Começo tudo pelo meio, volto ao início e apresso o fim.

O sentimento vagueia, entre os ossos e a carne, ora lento como o caracol que atravessa preguiçosamente a estrada num dia quente de verão, ora rápido e violento como as ondas que batem sem dó nem piedade na arriba da praia. Quantas vezes senti o calor, o formigueiro na pele, o conforto e o sorriso traduzido pelas tuas palavras doces? São vezes felizes que não me atrevo a contar porque sei, sei com firme certeza, que nunca serão suficientes. Dás-me tudo o que tens e tudo o que podes e tudo isso recebo de braços abertos.
Só que meus olhos contemplam a tua ausência. Procuro-te em todos os cantos da casa, em todas as sombras, em todos os horizontes, na esperança de um vislumbre, um simples vislumbre do sorriso que me derrete o gelo que acumulo no inverno sem ti. Olho para as minhas mãos e a garganta aperta, o peito, o coração aperta demais e cada batimento traduz uma lágrima que se solta infeliz e com saudade. Os espaços entre os meus dedos são onde os teus cabem na perfeição, têm o teu nome e por ti anseiam. Meus cabelos não dançam às canções dos ventos, meu coração palpita forte como se partisse mais um bocadinho cada vez que ouço teu nome. Muitas vezes sou eu que te chamo. Muitas vezes sou eu que parto minha alma, a ti ancorada, em pedaços cada vez mais pequenos, a tentar que desapareçam de vez. Desse modo não sentiria mais a dor de te ver do outro lado do espelho e não te conseguir tocar. Não sabes o estado lastimável, esfarrapado, pobre e sem vida com que fico quando olho do outro lado do mar e penso que lá estás à minha espera. E eu, sem alternativa, estou nesta costa sépia e gasta, sem barco ou canoa, rodeada de pessoas a quem sou invisível.
Sussurra ao meu ouvido, diz outra vez que estás comigo, que me amas, mais do que eu te amo a ti, diz outra vez que vais inventar uma máquina que vai projetar no céu "Amo-te Bruna", que pedes a Deus todas as noites que tudo me corra bem e que mesmo que passe 5, 10 anos, que continuemos assim como estamos, juntos.. Mas estás tão longe! Chamas-me de tua infinito, mas sinto que o único infinito que neste preciso momento me afeta é o tempo entre esta solidão de coração e a tua presença.
Preciso que me venhas levantar o queixo, ando de cabeça baixa outra vez. Vem pôr o freio nos meus olhos porque já doem de tanta lágrima insistir teimosa em cair secretamente. Vem, dá-me um beijo, segura-me e nunca te vás embora. Mesmo que eu queira partir, não me deixes.

Comentários

Mensagens populares