• (Noite)

Escuro. Frio. Uma corrente de ar arrepia o pescoço, pequenos pontos no céu distante iluminam a noite escura no cais da praia. Olho para a outra margem da água. Luzes movimentam-se numa imagem distorcida pela distância. O céu e as nuvens daquele lado parecem em fogo; de um cor laranja vivo, que vai falecendo à medida que inclinamos a cabeça para trás.
Na mesa do café/bar já estava o meu café "à minha espera". As natas doces cobertas de canela e pó de chocolate, flutuam por cima do café amargo que, por sua vez, está em cima de leite condensado fresco. As natas deixaram me com as papilas gustativas alertas, o café misturado como leite condensado queima me a garganta. São por estes pequenos prazeres que vale a pena fazer, sei lá, aquilo que fazemos...


  • (Manhã)
Sem saber de onde, a saber de quem. Gritos, choro, sofrimento, desespero. Sem saber o que mais se há-de fazer, chega-se a este ponto. Salto da cama, dirijo-me ao local de onde vem tal cacofonia e a única coisa que ouço sem dizer uma palavra é "Cala-te Bruna.". Embateu no fundo, tocou numa ferida que julguei sarada há muito. (...)
(...) De volta à escuridão. Ligo a luz, visto aquilo que me saiu primeiro do saco de viagem, saio disparada de casa e encontro alguém a carregar o carro. Perguntei se tal precisava de ajuda e sem deixar responder, peguei nos sacos e numa mala e coloquei-os dentro do carro. Via-se no olhar dessa pessoa que estava a fazer um esforço tremendo para não deitar tudo cá para fora. É uma pessoa a ser louvada. Ri-se quando quer gritar, chorar, mandar tudo para um tal sitio. Põe-se na m**** para põr os burros a andar.
Almoço calado, o barulho do café/residencial de fundo era o unico som.

  • (Tarde)
Numa tentativa de tirar um rapaz fora de casa por momentos, levei-o a um dos meus sítios favoritos. A quinta dos cavalos. Sem demoras, lá estávamos. O cheiro a feno e a campo que me era tão familiar levou me a memórias de infância. Preparei o cavalo castanho de crina preta, altura média. Com ele já dentro do picadeiro, qual não é o meu espanto que o rapazinho me pede para montar. Eu fiquei espentada e meio atrapalhada dos pensamentos que me voavam na mente. Ajudei-o a subir para o dorso do cavalo, ordenei ao cavalo que iniciasse a sua passada mais calma. Ordenei não, pedi; não se ordena nada aos animais, pede-se; e se eles bem entenderem, obedecem ou não. Pedi desta vez ao menino que fizesse os exercicios de postura e confiança que lhe dissesse. Assim ele cumpriu tudo o que lhe tinha dito para fazer. Agradeceu a aula e saiu. Fiz uma pausa para lanchar. Não fazia ideia que o dono da quinta iria precisar de mim outra vez, mas mal pediu ajuda, voltei à quinta. Estava lá um rapaz já adolescente feito com a mãe e uma pequena menina de 3 aninhos. Mais um espanto se seguiu, quando o dono me pediu para dar a aula à menina. Senti uma grande responsabilidade e orgulho dos dois lados, meu e do dono. A aula de equitação decorreu 5 estrelas. Já estava a anoitecer e lembro-me de pensar que a pessoa quem ajudei, já não está cá.

  • (Noite)
Um banho de água quente lavou-me o corpo e também a mente. Era hora de jantar. Eu era uma das duas pessoas sentadas à mesa. Mais uma vez um silêncio arrebatador preenchia o vazio do vazio. Sem nada para fazer, vim para o um dos poucos sítios onde posso dar asas à minha imaginação e contar tudo o que se passou em mais um dia de vida. E com todo o tempo do mundo que a noite pára, voo pelos cantos da memoria e deixo os meus dedos deslizar á medida que revejo o meu dia...

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