(novo endereço) Mais um dia se seguirá...
Mais um dia passou, com o ontem fazem dois e com o que virá amanhã farão três... amanhã será mais um daqueles dias em que acordo momentos antes de o meu pai me trazer o pequeno-almoço à cama. Momentos esses em que se sente o aroma de chocolate a correr apressadamente as escadas e toca suavemente à porta para me dar a oportunidade de ter um acordar doce para o dia amargo de ruído que se segue. Saio da fogueira macia dos colchões de flanela e ainda sinto os pés quentinhos em meias de lã por alguns segundos. Ainda com os olhos meios fechados, sigo para o corredor onde o frio me desperta os sentidos e me faz acordar completamente, como se me atirassem um balde de água fria para cima. Nesse momento fico a olhar para o espelho da casa de banho em silêncio desejando que fosse apenas um pesadelo e que ainda estava a dormir. Mas infelizmente, ao passar a água fresca pela cara, reparei que já estava na realidade. Deixando-me ficar mais um pouco nos meus pensamentos, não dei pelo tempo passar. Volto apressadamente para o quarto, a ouvir o meu irmão a queixar-se de que não quer sair da cama ainda com o subtil cheiro a chocolate a circular pela casa. Respiro fundo, olho à volta e começo a adicionar rapidez aos meus movimentos. Em dez minutos, já desci as escadas e estou a substituir livros na mochila da escola. O meu irmão ainda está sentado na mesa com a sua tigela de cereais à frente a ver televisão, como se não houvesse outra coisa no mundo senão televisão. Vem o meu pai e dá-lhe um safanão para ver se ele acorda do transe, o que se concretiza com um rosnar e com um cruzar de braços de cabeça baixa. O cheiro maçã do spray para o cabelo eriçado de crianças substitui o de chocolate. O silêncio é também substituído por alguns "ais" inúteis, à medida que a escova vai passando ao de leve no cabelo do criança. Com apenas isto já se passou meia hora. Abro a porta e ao sair do meu lar, dou com sentidos que já me tinha esquecido... O cheiro fresco da manhã lavada pelo orvalho e seca pelo sol. Sigo em frente, com duas porta-chaves a pularem me as pernas: as minhas cadelas. Com tanto salto e tanta euforia da parte delas, quase troco os olhos para distinguir qual é quem.
Chego ao carro, a viagem é curta mas lenta, invadida por um silêncio pesado de pensamentos do tipo "tenho que fazer isto, aquilo, aculoutro, não me posso esquecer daquilo, etc...", " já é dia de semana? Nunca mais são férias... não me apetece fazer nada.", "agora vou para a escola, mas depois chego a casa e vou para o lego!" Várias coisas se passam ao longo do dia. Mas passa-se a mesma a partir da 5:30.
Saio do que foi o meu abrigo durante o dia e vou para aquilo que mais me dá prazer no fim de um dia cansativo. Chego à porta de um grande estabelecimento e sinto de imediato mais sensações que conheço tão bem: o cheiro a cloro, as gargalhadas de adolescentes que esperam pacientemente a ordem de entrada para o balneário. Após a chamada e o aquecimento exterior, coloco a touca e mergulho na água. Sinto-me como pássaro a voar sem limites... Sinto uma liberdade tremenda, apesar de estar constantemente a receber ordens. Mas essas ordens, são conselhos para o meu futuro no desporto. Como tal, sigo-as de livre vontade pensando sempre que é o melhor para mim. No fim de tudo, exausta mas orgulhosa do esforço conseguido, um banho quente só faz bem. O aroma do vário champô que circula é tão intenso que se cheira da parte de fora do balneário. Chega a hora de partir para casa. Mais uma vez, um silêncio pesa dentro do carro, mas cheio de pensamentos vazios, sem nada para mostrar ou dizer. Talvez pelo cansaço, talvez pela preguiça, não sei porquê. Ao entrar dentro daquilo a que chamo de lar, mais um cheirinho a jantar feito pela mãe me consome. Faço o que tenho a fazer e sento-me à mesa, esperando mais uma refeição deliciosa.
No fim de já bem abastecida, subo as escadas pesada e lentamente. Minhas pernas doem, por cada pequeno esforço que faça, elas tremem e começam a fraquejar, assim como os braços. Mais uma vez olho à volta para aquilo que tenho e penso: " como é bom ter tudo o que queremos, pelo esforço que fizemos para o conseguir" mas seguem-se os pensamentos que assombram toda a gente: " mas se fiz esse esforço todo, e tenho tudo o que quero, concretizei objectivos. Então porque é que me pedem sempre mais, mais, mais e mais? Porque me pedem coisas que não consigo? Porque me pedem o impossível?" e de seguida mais pensamentos: "Quem me dera que cá estivesses ao meu lado para me apoiar nesta situação... dizem que o mundo é pequeno, mas é grande demais. A vida é cruel, ri-se das nossas feridas, queima-nos em dor e sofrimento. Quem-me dera não ter nascido..." Estes pensamentos enchem-me a cabeça. Abano a cabeça dizendo baixinho: Agora é tarde demais para desistir. Estou cá por alguma razão. Vou mostrar que não sou fraca e vou continuar. Volto para o meu ninho de sonhos, com a minha mente em guerra entre pensamentos positivos e negativos, à espera de mais uma noite rápida.
Este será o meu dia de amanhã...
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